O país do mimimi… Será?

Cada vez mais ouvimos frases do tipo “o mundo está muito chato”, “agora tudo é mimimi”,” não se pode fazer piada com nada” e muitas outras variações dentro desse tema. A pergunta que não quer calar é: será que o politicamente correto é chato, ou ele serve para nos mostrar que algo em nosso comportamento precisa ser repensado?

Racismo no Brasil

No Brasil, nós não tivemos leis racistas como nos EUA, mas isso não quer dizer que as coisas são melhores por aqui. O racismo em nosso país atinge aspectos culturais e comportamentais. Está implícito em diversas situações, não é declarado, mas ele simplesmente existe.

Esse é o chamado racismo estrutural, presente nas relações e atitudes da sociedade, de forma consciente e inconsciente. Ele é tão prejudicial quanto o racismo declarado, pois, preserva e perpetua comportamentos preconceituosos em uma sociedade onde a maioria da população é negra.

54,7% da população brasileira se declara preta ou parda (de acordo com IBGE- PNAD 2º trimestre2021).

Embora a população brasileira seja majoritariamente preta, não encontramos a mesma representatividade em nosso congresso nacional, nas melhores universidades ou nos cargos de liderança. Segundo o IBGE (2018) apenas 29.9% das posições de gerência no país são ocupadas por negros. Por outro lado, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 75 são pretas!

Essa desigualdade tem tudo a ver com racismo estrutural, visto que não oferecemos igualdade de oportunidades, acesso a uma boa educação, saúde de qualidade e condições dignas para todos. Por exemplo, quando uma vaga de emprego pede fluência em inglês, intercambio no exterior, formação em universidades de primeira linha, significa que essa oportunidade está excluindo a maioria dos negros, que não tiveram acesso as mesmas condições educacionais e culturais.

Perceba que em nenhum lugar da descrição, dessa suposta vaga, está informando que não serão aceitos candidatos pretos, mas as exigências por si só já os excluem, perpetuando o fato de que os melhores empregos estão destinados à população branca. É assim que funciona o racismo estrutural.

Essa falta de oportunidades também tem a ver com o racismo histórico, quando houve a abolição da escravatura, após 300 anos de existência, não foi criada nenhuma condição de desenvolvimento social e econômico. Os negros deixaram de ser escravos e passaram a viver à margem da sociedade, abandonados à própria sorte e em condições desumanas.

 

Expressões e “brincadeiras” preconceituosas

Hoje é Dia Nacional da Consciência Negra, uma data importante para refletirmos sobre alguns supostos “mimimi”. Expressões que ofendem outras pessoas não são divertidas, tão pouco aceitáveis. Portanto, se queremos viver em uma sociedade mais justa e igualitária, frases e supostas brincadeiras racistas, homofóbicas, gordofóbicas e discriminatórias de uma forma geral devem sim ser excluídas do nosso dia a dia.

 

Expressões racistas que devemos eliminar do vocabulário

Algumas expressões são tão usadas que as pessoas não se dão conta de como são preconceituosas, por isso vamos dar alguns exemplos de frases que devem ser eliminadas do vocabulário de uma vez por todas:

  • LISTA NEGRA; OVELHA NEGRA; MERCADO NEGRO: a palavra “negro” é usada em sentido negativo ou depreciativo
  • DENEGRIR: segundo o dicionário Aurélio, a palavra significa “tornar negro”, portanto, uma palavra ofensiva que considera algo negro como negativo.
  • DA COR DO PECADO: classifica o corpo da mulher negra apenas como um objeto sexual.
  • NEGRO DE TRAÇOS FINOS; NEM PARECE NEGRA: expressões grosseiras que diminuem a beleza negra, como se apenas a estética branca fosse bonita.
  • CABELO RUIM; CABELO DURO; CABELO DE BOMBRIL: sinônimos de cabelo crespo. Expressões extremamente ofensivas que consideram cabelo liso como sendo bom, e crespo ruim, o que é um absurdo!
  • NÃO SOU TUAS NEGAS: é como se mulher negra fosse “qualquer uma” ou “de todo mundo”. Reforça os abusos sofridos na escravidão, quando as negras eram violentadas e tidas como propriedade dos brancos.
  • CRIADO-MUDO: era o escravo que ficar parado ao lado da cama dos seus senhores, esperando por suas ordens. Como eles não podiam falar ou emitir qualquer ruído, a mesa de cabeceira passou a ser chamada dessa forma.
  • MULATA: muito usada para definir uma pessoa preta de pele clara, entretanto, refere-se ao filhote resultante do cruzamento entre uma égua com um jumento, portanto, muito depreciativa.
  • SERVIÇO DE PRETO: usada para dizer que algo foi malfeito, um insulto absurdo.
  • A COISA TÁ PRETA: essa frase usa a palavra “preta” como sinônimo de algo ruim e desagradável.
  • INVEJA BRANCA: a palavra “branca” é empregada como algo positivo, para ilustrar um sentimento bom.
  • DIA DE BRANCO: usada para se referir a dia de trabalho, mais um exemplo onde a palavra “branco” representa coisa boa. Como se preto não trabalhasse!
  • PRETO QUANDO NÃO C… NA ENTRADA, C…NA SAÍDA! Difícil imaginar ofensa maior!

Caso você que esteja lendo esse texto seja uma pessoa branca, e pense que “hoje em dia tem muito mimimi”, pergunte para uma pessoa preta o que ela acha. Questione sobre como ela se sente diante dessas expressões e piadas. Procure saber se ela já vivenciou alguma situação de preconceito, como ser seguida por um segurança no shopping (simplesmente devido à cor de sua pele). Imagine-se nesse lugar… Como você acha que seria se o seu filho ou filha passasse por algo assim?

Combater o racismo não é uma causa das pessoas pretas, é de todos os seres humanos. Um processo necessário de desconstrução cultural, assim como todas as formas de preconceito.

Piadas e modo de pensar que reforçam o preconceito não tem graça e devem ser combatidas.

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